Essas patologias, além de serem muito comuns, são muito importantes do ponto de vista das funções de edifício e do usuário, por três motivos(THOMAZ. 1989): podem ser um aviso sobre a possível ocorrência de problemas estruturais; podem acarretar problemas em várias funções do edifícios (provocar umidade, prejudicar a durabilidade das vedações, o isolamento termo-acústico, etc.) e podem também causar grande desconforto psicológico para os usuários.

Como identificar trincas em alvenaria: os sintomas

A primeira ação no estudo da patologia é identificá-la, isto é, saber em que situação as ocorrências observadas devem ser caracterizadas como sintomas. Isso é importante porque a fissuração de paredes sempre ocorrerá em algum grau, e nem sempre será considerada patológica. Por outro lado, podem ser visualmente imperceptíveis e já serem consideradas patológicas.

O critério para caracterização de fissuras como patologias é que ocorram em número superior a dois ou três por metro quadrado, e que sejam visíveis a olho nu, a uma distância de aproximadamente 1,0 m da parede, o que deve ocorrer para fissuras de aproximadamente 1,0 mm de largura. Se as fissuras não são visíveis a essa distância, mas estão provocando outros problemas (como penetração de umidade através da parede, por exemplo), também devem ser consideradas como patologias.

As trincas e fissuras são, muitas vezes, manifestações do mesmo fenômeno, e podem até ser consideradas, genericamente, como sinônimas. A diferença entre as duas é quase sempre de intensidade, sendo que a trinca significa uma intensidade maior do fenômeno causador, pois tem maior dimensão (espessura e comprimento) que a fissura. Dependendo do fenômeno causador a fissuração pode apresentar-se dispersa e em formato de “mapa”, enquanto que a trinca tem um desenho mais definido e linear.

Possíveis causas e diagnóstico

As principais causas possíveis da ocorrência de trincas e fissuras em paredes de alvenaria são mostradas a seguir.

Recalque de fundações

Recalque é um afundamento das fundações de um edifício, em toda sua extensão ou em parte dela, que faz trincar as suas paredes. As causas dos recalques podem ser várias e constituem assunto de engenharia especializada, que não será abordado aqui. A título de exemplo, uma causa possível é a alteração de umidade do solo sob um trecho da edificação, provocada por raízes de vegetações próximas, por exemplo. Veja a foto e o desenho a seguir.

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Sobrecargas

Nesse caso as trincas são causadas por cargas (pesos) além do que a parede pode suportar. Uma fissura muito comum desse tipo é a que ocorre em paredes com aberturas (portas e janelas), devido à concentração de esforços nos cantos dos vãos, e a ausência ou insuficiência de vergas e contra-vergas. Nesse caso as trincas aparecem nos cantos, fazendo uma inclinação de 45 o com a horizontal, aproximadamente.

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Movimentação térmica

Lajes de cobertura apoiadas em paredes de alvenaria, no caso de construções térreas, por exemplo, ao se deformarem por movimento de dilatação e contração, podem ocasionar trincas nas paredes onde estão apoiadas. Veja a foto e o desenho.

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Movimentação da estrutura

A movimentação da estrutura em relação à alvenaria e a ausência ou insuficiência de elementos construtivos que possam suportá-las é causadora de trincas. Nesse caso encontram-se também trincas que podem ser sintomas de deformação excessiva da estrutura, indicando uma patologia estrutural.

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Variações de umidade dos materiais

São variações, chamadas higroscópicas, que ocorrem quando há maior exposição à umidade de alguns materiais em relação a outros. Isso acarreta variações de volume diferenciadas entre eles, causando trincas. Muitas vezes essas trincas são sintomas de outras patologias relacionadas a vazamentos e infiltrações (ver fotos).

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