O mobiliário certamente surgiu como resposta às necessidades do ser humano. Seu aparecimento e evolução somente podem ser imaginados tomando como referência a evolução acontecida em épocas mais recentes. Podemos supor, desta maneira, que o primeiro móvel se destinava a defender alimentos das investidas dos animais ou a proteger objetos preciosos. Seria, então, qualquer coisa semelhante a uma caixa que, posteriormente, teria como derivados o baú, o armário, a cômoda, e todos os outros móveis conhecidos como “móveis de guardar”.

Talvez a própria caixa servisse inicialmente de apoio e assento para o ser humano, cujos hábitos e postura estavam se modificando. Poderíamos, então, imaginar que o ser humano desenvolveu um banco e muito depois uma cadeira, cama, sofá, poltrona, enfim, os chamados móveis de descanso.

Paralelamente surgiram os móveis de exaltação destinados a engrandecer o líder ou soberano, talvez um banco ou uma cadeira mais alta que deram origem à cadeira majestática e ao trono. A mesa, cuja função inicial foi possivelmente a de ser um lugar de trabalho, transformou-se em lugar de refeições e de confraternização familiar ou social.

No campo religioso, a pedra de sacrifício, elemento fundamental no culto aos deuses familiares, deu lugar a pequenos altares e posteriormente a oratórios domésticos e retábulos, quando o culto já se tornou eminentemente coletivo.

Breve história do mobiliário no Brasil

Tendo sido o Brasil uma colônia portuguesa, é natural que o nosso mobiliário seja, antes de tudo, um desdobramento do mobiliário português. Embora o material empregado fosse bem brasileiro, aqueles que trabalhavam com ele foram sempre portugueses, filhos de Portugal ou, quando nascidos no Brasil, de descendência portuguesa ou então mestiça.

O mobiliário do colono era extremamente singelo e despretensioso, a ele só interessava o essencial: além do pequeno oratório com o santo de sua devoção, camas, cadeiras, mesas e arcas. A simplicidade mobiliária dos primeiros colonos manteve-se depois como uma das características da casa brasileira. Mas, se a arrumação era despretensiosa, as peças em si eram bem trabalhadas e bonitas. Não só porque a tradição do oficio era fazê-las assim, como também porque os oficiais e ajudantes deles eram muitas vezes gente da casa, escravos cujos dotes naturais eram em boa hora revelados. Trabalhando sem pressa, nem necessidade de lucro, “o prazer de fazer bem feito” era tudo que importava.

O móvel brasileiro, ou seja, o móvel português feito no Brasil acompanhou, portanto como o da Metrópole, a evolução normal do mobiliário de todos os países europeus, ou de procedência européia.

As “modas”, todas elas importadas, atingiam as camadas mais abastadas em primeiro lugar, sendo depois vulgarizadas com a produção dos mesmos modelos de móveis no tipo “ordinário” ou comum. No período colonial, havia, na prática, três tipos de móveis: os de “luxo”, feitos com madeiras de lei; os chamados na época “ordinários”, também feitos de madeira de lei, mas menos aparatosos; e os “toscos” feitos em madeira comum para uso popular ou serviço doméstico.

O mobiliário do Brasil pode ser, assim como todos os demais de fundo europeu, classificado em três grandes períodos:

  • O primeiro – Renascimento: abrange os séculos XVI e XVII e prolonga-se mesmo até o começo dos setecentos.
  • O segundo – Barroco-Rococó: estende-se praticamente por todo século XVIII.
  • E o terceiro e último, o da reação acadêmica, ou seja, Neoclássico: corresponde principalmente à primeira metade do século XIX.

Depois disso houve apenas modas originadas pela influência da produção industrial que dia-a-dia se acentuava.

Mobiliário no período do renascimento

Ao examinarmos as peças que correspondem ao primeiro desses períodos, é preciso não esquecer que apesar da opulência, a noção de conforto como nós a percebemos agora, era ainda pouco desenvolvida, e os modos, sob certos aspectos bastante rudes. O mobiliário caracterizava-se pela sua estrutura de aparência rígida, fortemente travejada e de composição nitidamente retangular. As pernas torneadas ou torcidas, as almofadas formando desenhos geométricos ou tremidos, a ornamentação corrida ao longo das abas ou de florões, marcando a amarração das trempes – tudo concorre para acentuar o aspecto “pesado”. As curvas entram apenas como elemento acidental, generalizando-se no século XVII, simplesmente recortadas na espessura da madeira para formar pés de mesa. São trabalhadas em espiral ou volutas na frente das cadeiras, no encosto das camas ou nas abas dos contadores, a sua presença de nada afeta o aspecto essencial do móvel. Tais características se prolongam pela primeira metade do século XVIII.

No Brasil, este primeiro período que abrange o renascimento corresponde aos momentos mais dramáticos da colonização: as lutas contra o nativo e a cobiça estrangeira; a fundação das primeiras povoações, vilas e cidades; a instalação dos colégios e das missões dos jesuítas e dos conventos franciscanos e de outras ordens religiosas; as bandeiras e o comércio de escravos. Corresponde ainda à cultura da cana e do algodão e à extração de madeiras.

Mobiliário século XVII

O mobiliário no período Barroco-Rococó

No segundo período, uma transformação fundamental altera por completo o aspecto do mobiliário. Enquanto antes as peças eram formadas de quadros de aparência rígida, a composição passa a ter um núcleo central de onde parte e cresce o resto do móvel.

Essa impressão de movimento e de vida é o traço comum que distingue, de um modo geral, a produção do século XVIII. Na primeira fase deste período, a composição ainda conserva certa rigidez, influência da técnica anterior. Já em meados do século, o mobiliário finalmente liberto das velhas formas, mas conservando ainda a primitiva nobreza de aspecto, ganha em equilíbrio e acabamento. Aos poucos a preocupação com a elegância vai se acentuando, às proporções esguias, à ornamentação fina e profusa.

A colônia desse segundo período corresponde ao surto econômico da região central em consequência da mineração do ouro e das pedras preciosas e ao desenvolvimento dos centros urbanos e às manifestações da formação de uma consciência independente e nacional.

Mobiliário século XVI

O período neoclássico do mobiliário no Brasil

O terceiro e último período volta à sobriedade, ao partido retilíneo e à composição regular, embora sob muitos aspectos mais artificiais. As linhas gerais do estilo Luiz XVI, e mais tarde do estilo Império, foram aqui interpretadas de modo mais simples, cedendo à talha e às aplicações de bronze o lugar, no desenho das guirlandas, dos medalhões, aos embutidos de madeiras claras ou de madeira marfim.

Essa maneira delicada e graciosa de compor durou pouco. Foi substituída por outra, mais conforme a tradição, e caracterizada pelos torneados miúdos, as caneluras e gomos armados em círculos ou em leques. As curvas também tornaram a desempenhar papel importante, marcando a linha elegante de certos móveis (foto) e, mais tarde, reaparecem graúdas e angulosas, já muito diferentes das de modelado plástico e macio do século XVIII. É a época dos bonitos e majestosos sofás de palhinha e das mobílias e sala de visita de aspecto sóbrio e rebuscado e dos móveis que eram chamados “de coluna”: cômodas, mesas, bancas, espelhos, quadros e os móveis de linhas retas e de estrutura mais delicada.

No período que abrange desde a vinda de D. João VI e da missão francesa até boa parte do reinado de D.Pedro II, o Brasil inicia um tímido processo industrial, passa pela independência política e chega ao surto da cultura do café.

Alguns artistas desgostosos pensaram em reviver artificialmente os processos rudimentares da produção regional folclórica. Outros, sem abandonarem as conveniências dos processos mecânicos, voltaram-se obstinadamente para o passado e se puseram a reproduzir em grande escala e com incrível fidelidade, toda a gama dos estilos históricos. E ainda outros resolveram inventar a arte nova, criando formas que dariam origem ao modernismo.

O mobiliário contemporâneo

Como o nosso móvel segue sempre de perto a evolução do móvel europeu, deverá, portanto, ainda acompanhar as transformações produzidas pela técnica contemporânea. As peças concebidas pelo espírito moderno distinguem-se pela leveza de aspecto e de peso. As armações, sejam elas de madeira, junco ou metálicas reduzem-se estritamente ao necessário, procurando assegurar uma estabilidade
perfeita e proporções ajustadas ao corpo: no caso das cadeiras próprias para as atitudes ativas, como sejam no escritório, de piano ou de sala de jantar ou as mais cômodas apropriadas para espera, conversa ou leitura; ou então as de grande conforto – poltronas estofadas e espreguiçadeiras.

Em todas elas, as peças que constituem o encosto, o assento e, em muitos casos, os braços, são soltas e independentes da estrutura propriamente dita, podendo ser removidas com facilidade para limpeza ou substituição das chapas respectivas.

Desta época em diante, as várias modas ecléticas, artisticamente estéreis e já de fundo quase exclusivamente comercial, foram quebrando a boa tradição. A produção industrial foi gradualmente deixando de lado os preconceitos e encontrando o novo caminho, passando a produzir, em série e com grande economia de matéria, peças tecnicamente perfeitas, cuja pureza das linhas revelava um estilo diferente que não imitava os estilos anteriores.

Mobiliário contemporâneo